quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Obsessão
Entro.
Olho.
Desvio o olhar.
Não penso; evito.
Evito pensar.
Troco minhas roupas. Preparo-me a dormir.
Deito-me.
Movo-me.
Penso.
Não consigo evitar.
Sinto calores em uma noite fria.
Meu corpo sua.
Levanto-me.
Ando.
Penso em tocar.
Não quero seguir. Não sou dominado pelo que não sou.
Nesta hora, quem sou?
Sou desejo?
Sou razão?
Olho em minha volta.
Quatro paredes e o silencio do sono.
Tão só. Mas só não estou.
O coração palpita forte. As pernas tremem.
O que faço? Sigo adiante? Ou, volto para traz?
Vou ao banheiro.
Lavo o meu rosto. Vejo-me no espelho.
Nesta hora, quem sou?
Sou desejo?
Sou razão?
Sou desejo e sou razão. Sou o controlador de mim mesmo.
O que quero?
O desejo ou a razão?
Quero o desejo e a razão. Quero a felicidade de poder dizer não.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Nestas Ruas Escuras
Noite. Ruas escuras.
Vento frio levanta os papeis jogados,
Vestígios de que ali houve vida.
Não se anda, não se fala, não se vê.
A solidão se encontra nas esquinas.
As paredes de pedras marcadas pelo tempo
Gritam às recém assentadas: "sois como nós".
Estas respondem: "as futuras serão como vós".
Formas quadradas, réplicas do prédio vizinho.
Ruas em todos os sentimos que levam para o mesmo lugar.
Em meio às sombras de um beco a luz de uma janela nos permite ver livros.
Outra janela e os mesmos livros.
A imagem se repete como um quadro para ludibriar o esquadro matriz de uma única medida.
Nas calçadas estreitas uma lata de lixo ou um caro, muito bem estacionado, nos impede de seguir.
Qual o problema? Se estes não andam, que nos impede de seguir em seu caminho?
Em asfalto liso, com a sinalização desgastada pelo tempo, contam-se as folhas colhidas pelo outono.
Que diferença se pelas calçadas ou pela rua? Ao fim, chega-se ao mesmo lugar.
Onde a vida deixou vestígios
Em papéis jogados, levantados pelo vento
Nestas ruas escuras,
Nesta noite.