Onde quer que fitemos nossos olhos encontramos um mundo agitado e dirigido sempre a atender aos ponteiros do relógio. Ultimamente, mais do que nunca, estes ponteiros parecem estar girando mais rápido que o tão conhecido “tic-tac”, o que faz com que tudo seja feito às pressas.
As vinte e quatro horas parecem que não são mais suficientes para que possamos por em dia nossas tarefas e liquidar todas as nossas obrigações diárias. Se temos que trabalhar oito horas, reservando três para as principais refeições, perdendo duas com transporte e ainda precisamos dormir em média um terço do dia, nos restam três horas diárias apenas para dedicarmos a nós mesmos, isto se estas não estiverem comprometidas com cursos, trabalhos domésticos ou outras atividades.
Quando paramos para refletir sobre o nosso próprio ritmo vemos que somos escravos dos ponteiros, que impiedosamente nunca param ou atrasam. O mundo tem girado em torno dessa dependência. Aliado ao badalar comercial, onde a competitividade faz parecer que o tempo de fato se torna cada vez mais curto, vemo-nos em meio a um processo sem volta de intensa e ininterrupta corrida.
O tempo sempre urge. Nisto esquecemos que nossa existência só se faz real através da percepção da existência do outro. Vamos e vimos o tempo todo e raramente trocamos um bom dia que não seja motivado pela mera formalidade social, ou, na maioria das fezes, funcional. Aproveitar cada momento disponível para devotar o desejo de um bom dia, ao vez de uma saudação pro–forme, ou admirar os riscos e círculos coloridos que seu filho trás da sala do jardim da infância; almoçar com os amigos e comentar uma partida de futebol, o último capítulo da novela ou um surpreendente livro faz com que os ponteiros do relógio, até então implacáveis, se rendam e passem por despercebidos.
A vida é muito curta para que seja mal aproveitada. Viver bem, além de uma medida inteligente é um preceito da Torá. Após a criação do mundo D’us logo institui o shabat e nele folgou. Na infinidade de sua sabedoria e ainda sendo imune aos poderes do tempo, o Criador do mundo ensina ao homem, de forma empírica, que em vão será trabalhar sem que em momento algum não se possa contemplar a obra que fez. Assim, D’us instrui a Moisés o qual institui o shabat como um dia de descanso sagrado ao povo que não tinha folga em seu labor escravista. D’us nos deu as leis não para que nos subjuguemos, mas para que vivamos! (Devarim 4:1).
Disse o Rebe Menachem M. Schneerson tz’l:
“O homem nunca poderá ser feliz se não
alimentar a alma assim como faz
com o corpo”
Como poderemos alimentar a nossa alma? Ora, sabemos que o corpo é matéria, e como tal é nutrida de algo material. Todos os anseios do corpo é por bens materiais, desde um pão a um beijo. O contato com a matéria faz saciar o corpo. Quando estamos desnutridos nosso corpo logo reclama, mas nossa alma, por outro lado, agüenta calada até o momento de não mais resistir e então chorar.
Como parte não material que nos compõe, ela necessita do espiritual para nutrir-se. Como o corpo necessita da matéria, que é sua origem, para alimentar-se, a alma busca em sua origem, D’us, os nutrientes necessários para manter-se viva. Onde encontraríamos a nutrição para nossa alma? A resposta será no tempo.
Reservar momento de contemplação nos faz migrar desse mundo para um que está dentro de nós. Fixar nossos olhos no horizonte até enxergar-mos a nós mesmos nos trás a auto-compreensão. Rever nosso dia e conhecer nosso próprio mecanismo é o primeiro passo para que possamos nos preparar para a nutrição espiritual.
Apenas com a auto-compreensão é que podemos nos aproximar do Senhor das Almas de forma sincera e aberta. Adan e Chava após comerem o fruto proibido no Jardim do Éden se esconderam para que não se encontrassem com D’us. Conhecedores de seu erro sentiram o peso da vergonha. Quando questionados pelo Altíssimo, cada um manifestou o motivo pelo qual foram induzidos ao ato proibido. A partir de então o homem recebe o livre arbítrio para que desse momento em diante soubesse o que era bom e mal. Dessa forma quando voltasse a se apresentar a D’us poderia dizer: “escolhi o bem” ou “escolhi o mal”
Por outro lado Cain, filho de Adan e Chava, quando questionado por D’us sobre seu irmão, que houvera matado instantes antes, responde de forma ríspida: “que tenho eu com o meu irmão?” A falta do auto-conhecimento faz com que o homem perca o contato com D’us, pois quando não nos apresentamos com humildade e devoção nossa alma não transcende sensorialmente aos céus, pois nosso ego encobre esse seu poder.
Um tempo para que possamos nos conhecer e nos relacionarmos com D’us deverá ser o momento mais aguardado por alguém que não deseja ser escrava do tempo e nem ter seus sentimentos apagados pelo ego que ele ativa com o passar dos dias.
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