A Fronteira entre
Amor Próprio e Egoísmo
Quando o ovo passa a ser um pinto. Quando não é mais dia, e sim, noite; os limites que definem estes conceitos são difíceis de identificar. Este dilema não existe quando se trata de definições exatas, como, por exemplo, duas propriedades separadas por uma cerca. Ou, o saldo quando negativo ou positivo. O problema só existe quando a percepção destes limites está dependente da subjetividade no poder de conceituar.
No comportamento humano também sofremos esse dilema ao tomarmos decisões que envolvam nosso próprio ego em frente ao de outra pessoa. Agir de forma imparcial parece algo impossível. Minha ação há de ser satisfatória para ambas as partes? Como reconhecer a fronteira que separa o amor próprio do egoísmo? Até que ponto alguém pode amar a si mesmo sem desmerecer ou ignorar a outrem?
Amor Próprio e Egoísmo
Quando temos tinta puramente branca a identificamos como sendo o que é; tinta branca. Se temos tinta de cor puramente preta da mesma forma a identificamos como preta. O que passa se as mesclamos? A princípio obtemos a cor cinza. Esta pode estar de tonalidade mais clara ou mais escura e, até aqui, não há problema. Porém, quando poderemos identificar quando a cor deixou de ser branca para se tornar cinza? Ou, como reconhecer que já não é mais cinza a cor passando esta a ser puramente preta?
Quando o ovo passa a ser um pinto. Quando não é mais dia, e sim, noite; os limites que definem estes conceitos são difíceis de identificar. Este dilema não existe quando se trata de definições exatas, como, por exemplo, duas propriedades separadas por uma cerca. Ou, o saldo quando negativo ou positivo. O problema só existe quando a percepção destes limites está dependente da subjetividade no poder de conceituar.
No comportamento humano também sofremos esse dilema ao tomarmos decisões que envolvam nosso próprio ego em frente ao de outra pessoa. Agir de forma imparcial parece algo impossível. Minha ação há de ser satisfatória para ambas as partes? Como reconhecer a fronteira que separa o amor próprio do egoísmo? Até que ponto alguém pode amar a si mesmo sem desmerecer ou ignorar a outrem?
Quando nos deparamos com os termos egoísmo e amor próprio rapidamente identificamos a clara e óbvia diferença entre ambos. Esta é tão explícita em nossas mentes como a diferença entre as cores branca e preta. De forma que qualquer mera conhecidência entre ambos seria imaginável e no mínimo considerado um erro. Contudo, a diferença entre essas duas formas de comportamento é muito tênue, que seria o respeito a condição e o direto do outro. Conceituam-se essas duas formas de comportamento como:
Amor Próprio: ou auto-estima, é a ação de estimar-se a si mesmo, auto valorizar-se. Tratar de promover o autobenefício e bem-estar.
Egoísmo: ação de elevar os interesses próprios acima dos interesses dos outros com (ou sem) o detrimento destes. Promover o próprio bem-estar sem considerar o bem-estar alheio. Agir em prol de sua própria condição sem levar em conta as condições de outrem.
Podemos identificar muito bem o amor próprio quando alguém dedica alguns minutos para sua refeição, e nela procurar comer alimentos saudáveis. Por outro lado alguém que chega a um Buffet e se serve de toda a carne, pelo simples fato que lhe encanta as carnes, e nisto não levou em consideração que outras pessoas também querem comer da mesma; identificamo-la como egoísta. Contudo, quando nos damos de cara com uma situação em que temos que escolher entre o nosso bem e o bem de outra pessoa, aí estaremos em uma situação onde a fronteira que separa o amor próprio do egoísmo se torna quase invisível.
Trazendo situações hipotéticas.
Caso 1: Supondo que alguém que por 10 anos cuidou de sua idosa avó. Certamente que nunca esteve completamente só, algum parente ou familiar ajudava esporadicamente, mas a obrigação dos cuidados realmente estava em suas mãos. Certo dia, decide se casar e construir sua própria família, e isso significa não ter mas a total responsabilidade nos cuidados da idosa avó. Sabe-se que a idosa senhora não tem qualquer culpa e toda a situação está fora de seu controle. Este alguém que a cuidou por 10 anos tem todo o direito de construir sua família.
Caso 2: Esta mesma pessoa solicita a um parente próximo, que ao seu juízo lhe parece ser capaz de cuidar de idosa avó, que assuma a responsabilidade dos cuidados. Este parente próximo ver que atender a este pedido lhe trará perda em sua qualidade de vida. Não poderá dar a mesma atenção aos filhos e ao cônjuge, terá potencial prejuízo no trabalho e/ou nos estudos. Será que ela está obrigada a abdicar de sua vida? Desde quando temos o dever do auto-sacrifício?
Caso 3: Há o amigo deprimido e o amigo consolador. Estes são os melhores amigos e compartilham confissões. Riem e choram sempre juntos. Chega o dia em que o amigo consolador tem que partir para atender uma proposta de trabalho em outra cidade o que lhe permitirá formar sua família e progredir nos estudos. O amigo deprimido tem uma vida tranqüila e estável, porem se tornou dependente emocionalmente do outro. O amigo que se vai vê o sofrimento de quem fica, se compadece das caras, bocas e murmúrios e, por fim, abandona seus planos para ajudar ao querido amigo.
No primeiro caso vemos uma pura situação de amor próprio. Aqui a pessoa decidiu dar um basta em sua vida de abnegação e partir a encarar sua própria felicidade. A obrigação dos cuidados da avó não está unicamente sobre ela, se não que, também compete aos demais parentes e familiares. Ela, ao fim, despertou para sua própria vida.
O segundo é um caso típico das fronteiras invisíveis. Sabe-se que a idosa avó é dependente de cuidados e que suas necessidades devem ser atendidas. Contudo, o fato de negar a si mesma é algo muito duro para qualquer pessoa, e o auto-sacrifício é quase inaceitável por ser a maior expressão de negação de amor próprio. Nisto, a pessoa se encontra em um dilema. Se não aceita a responsabilidade dos cuidados é considerada como egoísta, embora tenha agido por amor próprio. Se aceita, poderá ser que assim o faz para não encarar a reprovação e a rejeição por parte da sociedade, o que pode ser considerado como egoísmo psicológico. Ao que, desconsiderando esta idéia, a pessoa estaria expressando altruísmo, que este, se lhe traz satisfação ao realizá-lo, esta também é uma forma de amor próprio.
Já no terceiro caso vemos que o amigo consolador, desprovido de qualquer egoísmo, nega sua auto-estima e atende a necessidade de seu companheiro. Ou melhor, atende a dependência emocional de seu amigo e o egoísmo que esta o provoca. A negação de si mesmo serviu para alimentar o capricho do egoísmo do outro, que, ao final das contas, conseguiu o que tanto queria. O amigo consolador se entregou ao medo de estar sendo egoísta e desprovendo o afeto ao seu melhor amigo, assim, rejeitou seu amor próprio, sua melhoria de vida, realização de seus sonhos e a possibilidade de que seu amigo não mais fosse seu dependente emocional.
O reconhecimento dos limites que separam o egoísmo do amor próprio está fadado à subjetividade da análise da situação. Uma pessoa que procura se cuidar de que seus desejos e ações em benefício próprio não afetem o bem-estar e a condição de outras pessoas deverá racionalizar a situação em que se encontra quando esta lhe exige uma clara identificação destes limites. Não somente isso, mas também solicitar uma opinião externa e neutra para que seja desprovida de qualquer inclinação.
Devido à falta dessa especial atenção é comum que nossas ações migrem, de forma singela, da categoria de egoísmo a amor próprio, e vice-versa, sem nos damos conta disso. Ou pensarmos que estamos agindo de forma correta, quando na verdade estamos nos eximindo do problema devido ao medo de estarmos agindo com egoísmo. A porta da solução desse enigma está em não apenas buscar em nós mesmos a cerca que limita estas duas formas de comportamento, mas também verificar se na condição de bem-estar do outro se esconde esta cerca. Agindo dessa forma não carregamos sobre nossos ombros a total responsabilidade de não ferir a outras pessoas uma vez que estas também são responsáveis por si mesmas.
A medida de amor próprio se termina quando passa a interferir na condição e bem-estar do outro. Contudo esta sentença só é válida quando existe a reciprocidade. Quando o meu bem não feri o bem do outro, estamos ambos usufruindo de nossa auto-estima de forma sadia. Caso contrário, alguém está equivocado agindo com egoísmo ou pondo em dúvida as verdadeiras intenções de amor próprio do outro.
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